Até a pouco tempo, eram usuais na mídia opiniões unânimes de analistas políticos garantindo que, apesar de muito jovem, a retomada da democracia no Brasil estava consolidada e nossas instituições democráticas em pleno e regular funcionamento.

Infelizmente, os fatos não demoraram a demonstrar o contrário. Hoje, muitos brasileiros e analistas estrangeiros tem sérios motivos para desconfiar de um retrocesso político que pode comprometer nossa jovem democracia.

Em entrevista ao jornal espanhol El País, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, demonstrou preocupação com a ameaça à democracia no Brasil. “O feito fundamental é que está sendo realizado um processo de impeachment de uma presidenta [Dilma Rousseff] que não é acusada de nada, não responde por nenhum ato ilegal. É algo que verdadeiramente nos preocupa, sobretudo porque vemos que entre os que podem acionar o processo de impeachment existem congressistas acusados e culpados. É o mundo ao contrário”. Para o secretário-geral da OEA, “sem democracia é impossível combater a corrupção, impossível conseguir condições de desenvolvimento, gerar direitos e eliminar as discriminações que ainda existem no continente”.

Já para Armelle Enders, historiadora na Paris-Sorbonne, em artigo para Marianne, “o processo de destituição de Rousseff transformou o dia 17 de abril numa ‘farsa’ e o ‘dia da vergonha’ para o Brasil”. Para ela “mais que o dia da vergonha, o triunfo daquilo que o país tem de mais obscuro e de mais retrógrado”. Comenta ainda que “o caso contra Dilma Rousseff desafia a lógica e a justiça. A presidente é impopular, certamente, cometeu erros flagrantes em todas as áreas, seu partido tem prosperado na corrupção sistêmica e merece certamente o remédio da oposição. Mas Dilma Rousseff não é até agora acusada em qualquer processo judicial, ao contrário de cinquenta deputados que participaram da votação de ontem e seu presidente, Eduardo Cunha, indiciado pelo Supremo Tribunal”.

Se a esperança é a última que morre, sejamos otimistas e, mais que acreditar, nos esforcemos para fazer retornar plenamente ao Brasil nossa jovem democracia.

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“A vontade do povo é a base da autoridade do poder público. Essa vontade será expressada mediante eleições autênticas que deverão ser realizadas periodicamente, por sufrágio universal e igual, e por voto secreto ou outro procedimento equivalente que garanta a liberdade de voto”.

Artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.